Niterói

Serviço de Viação de Niterói e São Gonçalo
1953 - 1967

Histórico

Em 1951, no dia 14 de agosto, a Prefeitura de Petrópolis promulga uma deliberação da Câmara Municipal para a abertura de concorrência para a concessão da exploração de ônibus elétricos em Petrópolis.

Em dezembro de 1951, a Prefeitura de Petrópolis encomenda 45 trólebus modelo Vétra VBRh, com capacidade para 80 passageiros,  à firma francesa  Société des Véhicules et Tracteurs Électriques.

Ficha Técnica dos Trólebus Vétra VBR

Comprimento: 10 m
Largura: 2,50 m
Altura: 2,935 m
Altura do Interior: 2,10 m
Capacidade: 80 passageiros, sendo 28 sentados
Chassi: Renault
Motor: ALS-Thom TA-505
Potência: 100 CV ou 130 CV
Velocidade Máxima: 60 a 75 km/h
Peso Vazio: 9,4 toneladas
Número de Portas: 2


Trólebus Vétra VBR da RATP em Paris em 1965
Foto Jean-Henri Manara

Trólebus Vétra VBR da RATP em Paris em 1965
Foto Jean-Henri Manara


No dia 30 de setembro de 1952, são realizados os testes dinâmicos do primeiro trólebus no Boulevard Bineau, em Neuilly-sur-Seine, nos arredores de Paris.

Em 1953, no dia 11 de fevereiro, chega  no Porto do Rio de Janeiro, proveniente do Porto de Dunkerke,  a primeira remessa de trólebus, com 4 carros. No dia 27 de fevereiro são desembarcados  mais 7 carros. 

Porto do Rio de Janeiro, em 1953


Em 1953, é criada a empresa estatal SERVE - Serviço de Viação de Niterói a São Gonçalo, controlada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, criada após a venda da Companhia Cantareira, que explorava os serviços de bondes e barcas para o Rio de Janeiro. A Cantareira foi vendida para o Grupo Carreteiro que não se interessou pelo operação dos bondes, sendo então criada a SERVE para assegurar a continuidade dos serviço de bondes em Niterói e São Gonçalo.

Em 1953, no dia 13 de fevereiro, o Governador Amaral Peixoto autoriza a entrega de 5 milhões de cruzeiros ao superintendente do SERVE para a construção da rede aérea de trólebus.

Em março de 1953, é iniciada a construção da linha de treinamento, no Gragoatá.

Em agosto de 1953, são iniciadas as obras de instalação da rede bifilar pela empresa S.A.D.E.- Sul América de Eletrificação S.A, sendo projetada a implantação 81 km de rede bifilar para operação de 9 linhas. No início são implantados 38 km de rede bifilar e adquiridos 45 trólebus importados da França, já encomendados em 1952 pela cidade de Petrópolis, que abandonou o projeto de implantação, sendo o pedido repassado ao SERVE.

No dia 21 de novembro de 1953, é inaugurada a primeira linha de trólebus de Niterói, tornando-se a terceira cidade do país a operar uma linha de ônibus elétrico, atrás somente das cidades de São Paulo (1949) e Belo Horizonte (maio de 1953). A primeira linha inaugurada, a 3 (Jardim do Ingá), ligava a Praça Martim Afonso à Praia das Flechas, via Gragoatá e São Domingos. A linha contava com 5,2 km de extensão, sendo 3.640 metros em linha dupla, e 1.500 metros em linha simples. Era prevista a expansão para o Saco de São Francisco, Canto do Rio, e Avenida 7 de Setembro.





Itinerários das primeiras linhas de trólebus:

2 (Jardim do Ingá) - Praça Martim Afonso, Visconde de Rio Branco, Guilherme Briggs, General Osório, Passos da Pátria, Presidente Domiciano, Presidente Pedreira, Doutor Paulo Alves, Tiradentes, José Bonifácio, General Andrade Neves, Quinze de Novembro, Praça Martim Afonso.

3 (Jardim do Ingá) - Praça Martim Afonso, Quinze de Novembro, Almirante Tefé, General Andrade Neves, José Bonifácio, Tiradentes, Doutor Pereira Nunes, Presidente Pedreira, Presidente Domiciano, Passos da Pátria, General Osório, Guilherme Briggs, Visconde do Rio Branco, Praça Martim Afonso.

São extintas as linhas de bonde "Circular" e "Jardim do Ingá". A linha "Canto do Rio" é desviada para as ruas da Conceição e Miguel de Frias.

Em 30 de dezembro de 1953, é inaugurada a linha do "Canto do Rio". Os moradores dos bairros de São Francisco, Cachoeira, Jurujuba e Charitas tinham que fazer o transbordo do bonde para o ônibus elétrico no Canto do Rio.

Em fevereiro de 1954, a empresa concessionária Icaraí Auto-Ônibus, alegando prejuízos em função da concorrência das novas linhas de trólebus, retira seus ônibus de circulação, deixando os moradores das ruas Gavião Peixoto e 7 de Setembro sem condução.

Em março de 1954, prosseguiam as obras de pavimentação da rua Geraldo Martins para a inauguração da linha de  6 (Sete de Setembro), a terceira do sistema, inaugurada no dia 30 de março de 1954, com tarifa de um cruzeiro e o seguinte itinerário: Praça Martim Afonso, Rua Visconde de Rio Branco, Rua XV de Novembro, Rua Almirante Tefé, Rua General Andrade Neves, Rua José Bonifácio, Rua Presidente Pedreira, Doutor  Paulo Alves, Praia das Flechas, Praia de Icaraí, Miguel de Frias, Gavião Peixoto, Avenida 7 de Setembro, Geraldo Martins, Mariz e Barros, Santa Rosa, 7 de Setembro, e vice-versa. As linhas de bonde “7 de Setembro” e “Salesiano” são extintas no dia 29 de março de 1954, enquanto as linhas de bonde “Santa Rosa - Viradouro” e “Cubango Fonseca” são reforçadas com os antigos carros.

Praça Araribóia na década de 1950


Linhas de Trólebus em operação em março de 1954

3 - Jardim do Ingá
6 - Avenida Sete 
9 - Canto do Rio

No dia 15 de abril de 1954, o ponto final da Linha 6 (Sete de Setembro) é transferido da Praça Araribóia, junto às Barcas, para a Avenida Amaral Peixoto.

No dia 13 de maio de 1954, em função do início dos trabalhos de implantação da rede aérea dos trólebus, é extinta a linha de bonde “Sacco de São Francisco”. O serviço é substituído provisoriamente por dois micro-ônibus a diesel adquiridos de segunda mão, que faziam o percurso Canto do Rio – Sacco de São Francisco, via Estrada Fróes, com tarifa de um cruzeiro, a mesma dos bondes. Nota-se que as redes dos trólebus e dos bondes eram de altura diferentes, impedindo a manutenção da outra.

Em maio de 1954, a população já sentia a falta dos bondes na Zona Sul. Só restavam em operação as linhas de Santa Rosa-Viradouro, Avenida 7 de Setembro e Cubango-Fonseca, ambas via Marquês de Paraná.

No dia 27 de julho de 1954, com a presença do Governador Amaral Peixoto, é inaugurada a quarta linha de trólebus, a nº 5, para o bairro de São Francisco, com nova rede instalada na Estrada Fróes, antigo caminho dos bondes. Nota-se que a Estrada Fróes, estreita, só permitia a passagem de um veículo. Segundo relatos de antigos moradores, os trólebus faziam a ultrapassagem no mesmo espaço do desvio dos bondes,  na altura do Iate Clube Brasileiro,  onde havia um semáforo regulador e o trólei era retirado da rede.

Por volta de agosto de 1954, é inaugurada a quinta de linha de trólebus, a 8 (Estácio de Sá) circular via Marquês de Paraná, com ponto regulador na rua Silvestre Rocha. Com a inauguração de novas linhas, a frota de trólebus  já não dava conta da demanda, gerando constantes reclamações da população. O Governo do Estado planejava a compra de novos trólebus, que nunca foi concretizada, com exceção de uma única unidade adquirida em 1963, de fabricação nacional.

No dia 31 de dezembro de 1955, é extinto o tráfego de bondes na Praça Martim Afonso No mesmo dia os pontos finais das linhas de trólebus 7 (Avenida 7) e 8 (Estácio de Sá) são transferidos do primeiro quarteirão da Avenida Amaral Peixoto para a Praça da República, em frente à Assembleia Legislativa.

Em 1956, no dia 4 de janeiro, é suspensa a operação da Linha  2 (Gragoatá) que atendia os bairros de São Domingos e Gragoatá. A Linha 9 (Canto do Rio) passa a fazer, na ida e na volta, o mesmo percurso da antiga linha.  

Praça Martim Afonso em 1956. Acervo Manchete


No dia 18 de março de 1957, é extinta a Linha 4 (Canto do Rio), considerada rápida pois seguia pelas ruas São Sebastião, Andrade Neves e Quinze de Novembro, enquanto a Linha 9 tinha itinerário mais longo, passando pelas ruas Presidente Pedreira, Presidente Domiciano, Passos da Pátria, General Osório, Gulherme Briggs e Visconde de Rio Branco. A extinção da linha 4 gera mais reclamações dos moradores, saudosos dos antigos bondes.



Linhas em julho de 1957

2 (Jardim do Ingá)
3 (Jardim do Ingá) via São Domingos 
5 (Sacco de São Francisco) 24 horas
6 (Avenida 7 de Setembro) via São Domingos
7 (Avenida 7 de Setembro) via Marquês de Paraná, 24 horas 
8 (Estácio de Sá) circular via Marquês de Paraná
9 (Canto do Rio) via São Domingos

Fonte: Aviso. O Fluminense. Niterói. 6 julho 1957. p.8


Em julho de 1957, todas as linhas tinham tarifa de 4 cruzeiros, com exceção da Linha 5 (São Francisco) com passagem direta de 5 cruzeiros e seção de 4 cruzeiros até o Canto do Rio.

Em 1958, são vendidos 4 trólebus para a cidade Campos, que inaugura sua primeira linha no dia 29 de junho do mesmo ano.


Janeiro de 1959. Acervo Manchete


Em 1959, no dia 3 de novembro, o sistema  contava com apenas 19 trólebus em operação. Os demais 22 carros se encontravam encostados por falta de manutenção. A falta de veículos gerava constantes protestos da população, que também  reclamava da retirada dos bondes.

No dia 22 de maio de 1959, durante a greve dos funcionários do Grupo Carreteiro, empresa responsável pelo serviço de Barcas para o Rio de Janeiro, o povo revoltado pela deficiência do serviço de emergência prestados pelos barcos da Marinha, promove grande depredação, destruindo e incendiando a estação das Barcas, além de bondes e trólebus que se encontravam nas ruas próximas.


Linhas 5 e 8 em 9 de março de 1960. Foto Arquivo Nacional


Linhas de trólebus em 1960, segundo o Guia Geral da Cidade de Niterói:

3 - Jardim do Ingá, via rua Andrade Neves
5 - Ssco de São Francisco, via rua São Sebastião
6 - Avenida 7 de Setembro, via rua Presidente Pedreira
7 - Avenida 7 de Setembro, via rua da Conceição
8 - Estácio de Sá, via praias das Flexas e de Icaraí
9 - Canto do Rio, via praias das Flexas e de Icaraí 

Em abril de 1961, da frota de 40 trólebus, apenas 28 circulavam, enquanto 11 permaneciam no depósito da rua São João.


Praia de Icaraí em 1961


No dia 2 de agosto de 1961, circula o primeiro trólebus (Linha 5) pelo recém-inaugurado Túnel Roberto Silveira.

Em novembro de 1961, visando reforçar a oferta e inaugurar novas linhas de trólebus para os bairros de Santa Rosa, Fonseca e Cubango, a Secretaria de Comunicações e Transportes inicia uma negociação para a compra de novos trólebus com a fábrica Villares, sediada em São Paulo.  Na época estuava-se também a compra de trólebus italiano “Fiat”, mas que foi descartada em função do demorado processo de aval do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico . A linha de Santa Rosa já contava com os cabos aéreos instalados.

Em 1962, o SERVE alegava dificuldades na importação de peças, que tornava o sistema antieconômico. O sistema passa a ser abandonado, paulatinamente. Em março planejava-se a transferência de mais 5 trólebus  para a cidade de Campos. 

Em agosto de 1962, o Serve lança a operação de 8 ônibus a diesel substituindo os 13 bondes das linhas Santa Rosa-Viradouro e Cubango-Fonseca. Haviam em operação em Niterói, 25 bondes nas linhas de São Gonçalo, Ponta da Areia e Largo do Moura, trinta trólebus e 12 ônibus a diesel. Além dos 8 ônibus para Santa Rosa e Cubango, quatro foram destinados para o reforço da Linha 6.

Em janeiro de 1963, entram em operação três trólebus recuperados, antes descartados como “ferro velho”. O SERVE contava com 26 trólebus, mas apenas 17 circulavam. Em março, a Linha 9 (Barcas - Canto do Rio) operava com apenas um carro. No dia 11 de janeiro de 1963, em função do descaso do Governo do Estado, que não providenciava a compra de peças de reposição para a manutenção dos bondes e trólebus, os funcionário do Serve  entram em greve. No dia 15 de janeiro de 1963, apenas 11 trólebus estavam em tráfego.

No final de janeiro de 1963, mais 5 trólebus avariados são transferidos para  recuperação e operação na cidade de  Campos dos Goytacazes.

No dia 3 de janeiro de 1963, por força de mandado de segurança em favor da Viação Santa Rosa que explorava uma linha de ônibus entre as Barcas e Santa Rosa, o Serve foi obrigado a retirar de tráfego os 4 ônibus a diesel que mantinha na linha 1 (Santa Rosa-Viradouro), desde a extinção da linha de bonde "Santa Rosa-Viradouro" em agosto de 1962.

Em março de 1963, em caráter experimental, entra em circulação o primeiro trólebus de fabricação nacional, fabricado pela Caio-Villares, com 12 metros de comprimento, um pouco maior que o Vétra.

Trólebus Caio/Villares com carroceria Vieira na linha 7, fotografado na Avenida Marquês de Paraná, esquina com rua da Conceição em abril de 1967

Em 24 de junho de 1963, início da operação da Linha 1 (Santa Rosa) de trólebus,  inicialmente com 4 carros. 

Em junho de 1963, o SERVE contava com frota de 27 trólebus, 20 bondes motores e 17 ônibus a diesel.

Em novembro de 1963, o governador Badjer da Silveira autoriza o Serve abrir concorrência para a compra de 30 novos ônibus a diesel.

No dia 31 de junho de 1964, circula o último bonde em Niterói, na linha Barcas – Rodo de São Gonçalo, via Porto Velho.

Em setembro de 1966, entram em operação os últimos 15 ônibus monoblocos Mercedes Benz a diesel, fabricados no Brasil, de uma encomenda de 50 unidades realizada em março de 1966.

Trólebus da linha  6 (Barcas-Sete de Setembro) na rua Mariz e Barros, por volta de 1966, em seus últimos dias, seguido de um ônibus a diesel da Linha 1 (Barcas- Santa Rosa-Viradouro) do SERVE

No dia 26 de agosto de 1966, são encostados os primeiros trólebus. No dia 10 de novembro de 1967, circula o último trólebus em Niterói, sendo os últimos veículos leiloados como sucata no dia 23 de março de 1969.

Em janeiro de 1969, o serve contava com frota de 91 ônibus a diesel, sendo 50 monoblocos MBB e 41 Mercedes convencionais, distribuídos nas linhas Santa Rosa (16), Cubango (12), Circular (12), Viradouro (12), São Francisco (7), e Ilha da Conceição (4).

Mapa da Rede (1953-1967)


Ponto final do trólebus na Avenida Amaral Peixoto


REFERÊNCIAS:

Mensagem à Assembleia Legislativa apresentada pelo Governador do Estado, por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1953. 15 março 1953. p.210.

Aviso ao Público. O Fluminense. Niterói. 17 novembro 1953. p.5.

Aviso ao Público. O Fluminense. Niterói. 30 dezembro 1955. p.6.

A dura experiência dos trolley-bus em Niterói. O Globo. 1957, abril, 1.

Mais Trolley-Bus para a Zona Sul e mais bondes para os  bairros proletários. Última Hora. 1959, dezembro, 29. Página 2.

Trolley-bus. Guia Geral da Cidade de Niterói para 1960. p.6.

Oito ônibus a diesel substituíram os 13 bondes de Cubango e Santa Rosa. O Fluminense. Niterói. 24 agosto 1962.

Juiz obriga Serve a recolher os ônibus da Linha Santa Rosa. Última Hora. Rio de Janeiro. 4 janeiro 1963. p.2.

Caos no Serve: Recolhidos às garagens 60% dos coletivos. O Fluminense. Niterói. 11 janeiro 1963. p.3.

Zona Sul quase sem condução: Serve tem apenas 11 tróleis. O Fluminense. Niterói. 15 janeiro 1963. p.3.

Trafegará em Niterói o primeiro ônibus elétrico construído no Brasil. O Globo. Rio de Janeiro. 26 março 1963. p.2.

SERVE não serve. Diário Carioca. 1965, fevereiro, 7.

Serve vai acabar e venderá ônibus. O Fluminense. Niterói. 7 janeiro 1969. p.8.

Página lançada em 12 de janeiro de 2019.